Acesse, Siga e Compartilhe!
Correspondencia particular.
Tauha 23 de julho de 1852
Nem sempre as minhas ocupações dãome lugar a escrever lhe as veses que devia para narrar lhe o que se passa por esta malfadada comarca, que tão fértil de acontecimentos exegia uma activa correspondência; mas cada um faz o que pode; assim aproveito o curto repouso de minhas fadigas campestres para lhe deregir esta, comunicando alguns factos que me occorreram dos muitos que aqui tem praticado a policia, e o nosso amável delgado, ou esre nosso Carrier, como lhe chama o Cearense. Principiarei pelo delegado.
Há dias que esta villa respira um pouco com a ausência deste flagelo que se retirou para sua fazenda, a fim de evitar o encontro de um seo credor dessa cidade, gente com quem o nosso amável não que garças, e a quem temem mais que a febre amarela.
Este pobre homem parece ter perdido a cabeça; faz do vel o todo ocupado da ellusão que nutre do vencimento da eleição. A maneira de um possesso, ameaça até os próprios elementos, jurando tudo destruit, senão se curvarem a sua vontade, votando com o governo. Carecido de influencia e sem partdo em que se apõe, quer esta fera suprir tudo isro com perseguições aos mais conspícuos cidadãos desta comarca. Vai já preparando d’ante mão os meios, imaginando crimes, e formando processos monstruosos; e protesta prendes no dia da eleição aos que tiverem a audácia de lhe faserem opposição. A porposito lembrei-me do nosso promotor; este moço, que não é inferior ao delegado em bravatas e infâmias, e tem de mais o ser malereado em summo grão, proveniente talvez de accessos cerebrais; protesta igualmente vencer as eleições, prometendo tropa ao subdelegado de Arneirós, e fazer tudo quanto lhe sugerir a sua esquentada imaginação.
Ao passo que o delegado persergue e prende aos pacíficos habitantes desta comarca, deixa passar impune os maiores criminosos protegidos do seo amo Barão. Haja vista o que praticou com Valentim de tal, que sendo preso pelo inspector José do Carmo Vieira por ladrão não quis processa-lo e te-lo soltar emediatamente – mais ainda – Gonçalo de tal denunciou de José Barros e Albuquerque por tentativa de morte perante o subdelegado: entrando este na inquirição das testemunhas, logo que duas depuserão, ordenou lhe o delegado que suspendesse o processo, e assim se cumprio, ficando o delinquente impune, e passeando de publico escarnicendo a duas victima – Era este endevidao, já se sabe protegido do Barão.
Manoel de Barros e Albuquerque com Bento de tal pretenderão assassinar o vaqueiro do capitão Joaquim Leopoldino: a victima depois de ferida e perseguida por espaço de uma lagoa, teria infalivelmente sucumbido, se a caridade de dois indivíduos, que no caminho encontrarão os assassinos, os não tivesse feito desitir de seu proposito. Este infeliz appareceo ao delegago, queixou-se mas todo foi baldado. É preciso notar, Manoel de Barros é criminoso de morte; mas que importa, se ele tem os mesmo privilégios dos assassinos do padre Ignácio!
No dia 2 de abril deste anno o inspector Antonio Ferreita de Sousa, e Silvestre Gomes Ferreira forão presos por ferimento recíprocos; o delegado no dia 3 os soltou a pretexto de terem desistido de suas denuncias.
Que bela jurisprudência a de delegado do Tauha.
Consta que este facto fora comunicado ao presidente; mas o que esperar de um instrumento semelhante!
Já lhe comuniquei a invenção miserável do delegado de seu assassinato planejado pelos Feitosas; agora saberá que depois de ter espalhado este boato, fes desparar contiguo à sua casa uma arma em uma noite chuvosa, com o intuito de criminal os; o que foi frustado por ser então o tenente Avila o comandante do destacamento, que o fes recuar de semelhante perversidade. Se fosse um Domingos que tudo concorda com o tal delagado, que de processos não haveril.
A respeito de uma cousa que aqui houve chamada qualificação, reservo me para outra ves; por ora, so direi que a lei foi inteiramente iludida, qualificando se pessoas que não possuem ne 10 reis.
Passarei agora a narrar-lhe alguns factos das excursões militares da policia.
Uma patrulha, comandado pelo cabo Almêda na fazenda Poço Preto prendeu e açoitou a um pobre homem Pedro Farofa, para este lhe mostrar um filho que se havia ocultado com medo do recrutamento.
A mesam escolta chegando a Canabrava do Mandú, fazenda do ex-coronel Pedro Alves Feitosa Vale, e so encontrando o vaqueiro Estevão Ferreira da Fonseca, roubarão-lhe uma espingarda, uma parnahiba, e uma faca; e a todas as reclamações do velho respondião – não lhe entregamos as armas, por que você é um assassino, basta ser vaqueiro dos Feitosas para ser malvando com eles; e o mandarão calar ameaçando-o de o açoitar; estas armas são hoje do domínio do delegado do Cococi.
Esta mesma escolta seguindo para a fazenda de S. Lourenço, ia amarrando a quem encontrava, como sucerdeo a Clarismundo de Tal. Thomas de Aquino, e Manoel Barbosa &; e exigindo dos que prendião paga para os soltar, receberão até os próprios chapeos.
Outra escolta comandada pelo soldado Basilio varejou sem as formalidades da lei (o que não deve admirar porque com todos da-se o mesmo) todas as cosas do Poço cumprido, e Varzea da Onça, examinando até os mais pequenos bahus; pois nestes podião encontrar cousas melhor que os Feitosas.
Esta mesma patrulha chegando na fazenda Alagoa, ali prendeo duas mulheres, por não quererem ceder a suas instancias libidinosas, condunzindo-as até Cococi, onde forão soltas. Nesta mesma ocasião prenderão a José Thomas de Aquino, e a João de Tal, ambos casados e sem crime; conduzirão-os para Coococi, e alí para os soltarem, exigirão que lhes desse aguardente, único fim da prisão ; satisfeita a exigência, foi de facto cumprido a palavra.
Outra patrulha, comandada pelo Almeida, pegou, no mesmo Cococi, a João Vieira, e o açoitarão para o obrigarem a mostrar a Joaquim de tal, e quem querião prender.
A patrulha que por acinte prendeo o respeitável cidadão Ignacio Caetano de Alencar Rodovalho, pegou e açoitou também um escravo de um primo do Sr. Rodovalho a ponto de o deixar por cama.
Outra patrulha, comandada pelo cabo Bento, na fazenda Riacho dos Cavalos do Sr. Evangelista prendeo a Bernardo de Tal, vaqueiro deste, e o maltrarão quanto foi possível, para fazer dizer onde estava seo amo, soltando-o somente depois que se convencerão que o miserável delle não sabia. Não satisfeitos com isto, depois de muito insultarem a Senhora do Sr. Evangelista, forão ao chiqueiro, e matarão as ovelhas que quiserão.
Aqui há um celebre João Lopes que tem resumido da maneira a mais somaria os julgamentos. Brigarão dois meninos, um de 9, outro de 10 anos, sendo aquele filho de Antonio Lourenço vaqueiro do dito João Lopes; e porque o filho do vaqueiro deste apanhesse do outro menino, ordenou João Lopes que este fosse surrado, o que assim se cumprio, ficando o miserável bastante doente.
Nada há comparável com o poder dos nossos agentes policiares. O subdelegado de Arneiroz faz ali o que quer; suas cartas particulares são mandadas por soldados da Guarda Nacional, e coitado daquele que lhe desobedece.
Quando que ir para o Logradouro, sua casa, manda notificar soldados à cavalo para o acompanharem. Acho-me já mui fadigado, o que é devido ao pouco hábito que temos nós os certanejos de escrever: por isso força é parar na narração de factos que nunca se acabarião de enumerar.
Guardar-me hei para outra ocasião descrever mais alguma cousa....
O certanejo.
Publicação: O CEARENSE.
Data: 24 de agosto de 1852
Materia: A carta sugere que a família dos Feitosas, mencionada como detentora de influência política na região, é acusada de perseguir e ameaçar aqueles que não concordam com seus interesses. Há relatos de crimes cometidos por membros dessa família, como tentativas de assassinato e proteção a criminosos. A carta destaca uma atmosfera de impunidade em relação às ações dos Feitosas, enquanto cidadãos comuns são alvo de perseguições por parte das autoridades locais, incluindo o delegado e o promotor.